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Corpo ativo, mente saudável: a psicologia por trás da corrida

Por: Redação

Publicado em 6 de outubro de 2025

Corpo ativo, mente saudável: a psicologia por trás da corrida

Foto: O2Corre

    Neste Artigo

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A relação entre corpo e mente já não pode mais ser contestada. A integração entre saúde física e mental já foi provada em pesquisas acadêmicas, práticas clínicas e na própria vida cotidiana.

Para aprofundar essa discussão e trazer luz a esse tema, conversamos com o psicólogo clínico Dr. Danilo Suassuna (CRP 01/15173), mestre em Psicologia Clínica e especialista em saúde mental, que destaca: “O corpo é nossa casa emocional. Cuidar do corpo é uma forma de elaborar dores, reconstruir vínculos com a vida e encontrar uma ética do cuidado que começa por si.”

A partir desse olhar, este artigo propõe uma reflexão sobre como o movimento corporal pode ser uma ferramenta terapêutica potente na promoção da saúde mental, abordando desde os impactos neuroquímicos da atividade física até suas aplicações no enfrentamento do luto, da autossabotagem e da construção da disciplina em momentos emocionalmente delicados.

Corpo em movimento, mente em cuidado: a psicologia por trás da corrida e da saúde mental

Por Dr. Danilo Suassuna

A relação entre corpo e mente sempre foi uma pauta central na psicologia. Desde os estudos de Wilhelm Reich, que observava o corpo como um espelho das emoções, até as mais recentes pesquisas em neurociência afetiva, sabemos que aquilo que vivemos emocionalmente repercute fisicamente — e vice-versa. Colocar o corpo em movimento, portanto, não é apenas uma questão de saúde física: é também uma ferramenta poderosa de cuidado psíquico.

Corpo e mente: uma conexão bidirecional

Quando falamos em saúde mental, não podemos esquecer que o cérebro faz parte do corpo. Ele depende de oxigenação adequada, sono reparador, alimentação balanceada e, claro, movimento. O sedentarismo prolongado contribui para a liberação de citocinas inflamatórias, que podem estar associadas ao surgimento ou agravamento de quadros depressivos (Schuch et al., 2018).

Além disso, exercícios físicos estimulam a liberação de neurotransmissores como serotonina, dopamina e endorfinas, todos relacionados ao bem-estar, à motivação e ao prazer. De forma prática: movimentar o corpo é uma forma de modular o humor, reduzir sintomas ansiosos e promover vitalidade.

Quais exercícios físicos são mais indicados para a saúde mental?

Do ponto de vista psicológico, não existe um exercício físico universalmente “melhor” para a saúde mental. A escolha da atividade ideal depende daquilo que a pessoa deseja, precisa e consegue sustentar em sua rotina com leveza e constância. Exercício físico não é punição — é recurso terapêutico, e como todo recurso, precisa ter sinergia com o estilo de vida, com o corpo e com a subjetividade de quem o pratica.

O que serve para uma pessoa pode ser um gatilho de frustração para outra. Por isso, o autoconhecimento é essencial na escolha. É importante perguntar-se: o que me faz bem? O que me dá prazer? O que consigo incluir na minha semana sem me sobrecarregar?

Ainda assim, algumas categorias de exercício tendem a trazer benefícios específicos para a saúde mental:

  • Exercícios rítmicos e aeróbicos (como corrida, caminhada, natação, bicicleta): promovem liberação de endorfinas e serotonina, com impacto direto no humor e na regulação emocional.

 

  • Exercícios com consciência corporal (como yoga, pilates, tai chi): estimulam presença, respiração e conexão mente-corpo, favorecendo a redução de ansiedade.

 

  • Atividades em grupo ou com interação social (dança, esportes coletivos, aulas coletivas de ginástica): fortalecem vínculos sociais e combatem o isolamento, que é um fator de risco para depressão.

 

  • Atividades ao ar livre (trilhas, caminhada em parques, esportes na natureza): reduzem os níveis de estresse e promovem contato com estímulos naturais, o que melhora o bem-estar emocional.

 

  • Atividades com metas progressivas (musculação, treinamento funcional): trabalham a autoestima, a superação de limites e a percepção de autoeficácia.

 

Mais do que encaixar-se em uma rotina idealizada, o mais importante é construir uma rotina possível e significativa, mesmo que comece com cinco minutos por dia. Afinal, o que impacta positivamente na saúde mental não é a intensidade isolada de um treino, mas a constância do cuidado com o próprio corpo e com a própria história.

Por que a corrida aparece como destaque na saúde mental?

A corrida é frequentemente citada como um dos exercícios mais eficazes para a saúde mental por uma série de razões:

  1. É acessível: requer apenas um tênis confortável e disposição.
  2. Permite autonomia: pode ser feita individualmente, no próprio ritmo.
  3. Produz endorfinas: gera sensação de prazer e euforia, conhecida como runner’s high.
  4. Tem impacto na autoestima: superar metas e distâncias reforça a autoeficácia.
  5. Favorece o silêncio interno: muitas pessoas usam a corrida como espaço de elaboração, onde pensam sobre a vida, organizam sentimentos ou simplesmente esvaziam a mente.

Corrida e luto: o que acontece no corpo e na mente?

O luto é um processo psíquico intenso, que pode se manifestar de formas físicas: insônia, fadiga, alterações no apetite, dores musculares e redução da imunidade. Psicologicamente, ele exige que a pessoa elabore a perda e reconstrua sua identidade a partir da ausência.

Colocar o corpo em movimento nesse momento pode ser um recurso importante. A corrida, por exemplo, ajuda a modular os níveis de cortisol (hormônio do estresse), melhora a qualidade do sono, e oferece um espaço simbólico de continuidade: cada passo é um gesto de seguir adiante, mesmo que lentamente.

Em muitos relatos clínicos e estudos qualitativos (Neimeyer, 2000; Parkes, 2001), a atividade física surge como estratégia de enfrentamento. Correr pode ser uma forma de sentir a vida pulsando no corpo, quando a alma ainda está em pedaços.

Como vencer a autossabotagem e colocar o corpo em movimento?

Autossabotagem é, muitas vezes, um nome que damos para um conjunto de mecanismos de defesa como negação, resistência ou evitação. Não é falta de vontade, mas um sistema psíquico tentando proteger o indivíduo de mais dor, de mais frustração, de mais fracasso.

Algumas estratégias que ajudam a vencer esse ciclo:

  • Comece pequeno: 5 minutos de caminhada já são melhores do que nenhum.
  • Evite metas perfeccionistas: o objetivo é o processo, não o desempenho.
  • Associe à rotina já existente: desça um ponto antes do trabalho e caminhe.
  • Apoio social: tenha um parceiro de treino ou compartilhe metas com alguém.

 

A psicoterapia também pode ajudar a identificar os conteúdos emocionais que estão sendo evitados por trás da procrastinação e da paralisia.

Como criar disciplina num momento emocional delicado?

Disciplina não é rigidez, mas uma forma de cuidado constante. Em momentos difíceis, criar micro-hábitos pode ser mais eficaz do que esperar pela motivação:

  • Ritualize o início: vista a roupa de treino em determinado horário.
  • Estabeleça um gatilho sensorial: ouvir uma música específica pode ser o start para a atividade.
  • Celebre pequenas vitórias: cada treino cumprido merece reconhecimento.
  • Diário corporal: anote como se sentiu antes e depois da atividade. A memória do bem-estar tende a reforçar o comportamento.

 

Esses pequenos mecanismos favorecem a formação de um hábito duradouro, mesmo em meio à dor.

Correr ou medicar? O que diz a ciência?

O estudo publicado recentemente no British Journal of Sports Medicine sugere que a corrida pode ser tão eficaz quanto medicamentos antidepressivos leves no tratamento da depressão leve a moderada. O artigo, baseado em uma revisão sistemática e meta-análise, comparou os efeitos da corrida com os de antidepressivos e constatou melhora semelhante nos sintomas depressivos em ambos os grupos.

É importante dizer que isso não significa que a medicação deva ser substituída por corrida de forma indiscriminada. O que o estudo reforça é que a atividade física pode — e deve — ser considerada como parte de um tratamento integral, principalmente em casos leves e moderados. Casos graves exigem abordagem multidisciplinar, com psiquiatra, psicólogo e, muitas vezes, suporte familiar.

Um olhar psicológico para tudo isso

Como psicólogo, Dr. Danilo Suassuna lembra que o corpo é nossa casa emocional. Cuidar do corpo é uma forma de elaborar dores, de reconstruir vínculos com a vida e de encontrar uma ética do cuidado que começa por si.

Movimentar o corpo não é apenas um gesto de saúde — é um gesto de escuta, de acolhimento e de compromisso com a própria existência.

Dr. Danilo Suassuna

Crédito da imagem: Envato

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