Endurance extremo: lições das corridas de trilhas para corpo e mente

No final de semana de 15 a 17 de agosto, ocorreu a famosa La Mision, uma das maiores corridas de montanhas do Brasil. Mais de 5.000 atletas de diversas partes do país e até de outras nações se juntaram em diversas distâncias para algumas provas dificílimas, com altimetrias acumuladas de até 6.000 metros. Dentro do universo do Endurance, este tipo de prova pode levar o corpo ao extremo.

Muitos corredores experientes, muitos novatos entusiastas. E, como médico e atleta, tive a oportunidade de participar e compartilhar muitas lições que o Endurance nas montanhas nos ensina:

1. Esteja treinado para o que se propõe fazer. Algumas destas provas podem levar até 30 horas, levando o corpo à exaustão. Houve uma quantidade grande de desistências e atendimentos médicos. Existem provas e distâncias variadas para as mais diversas capacidades.
2. Esteja com seu check-up médico em dia. E faça seu médico saber o seu nível de atividade física, para decidirem juntos se você está apto ao desafio.
3. Esteja equipado adequadamente, tendo já testado todo o material que será utilizado. Não experimente um equipamento novo na prova. Nem suplementos.
4. Faça a “aclimatação” do sono. Algumas provas largavam de madrugada, outras varavam a noite. Adaptar o sono dias antes até a prova facilitará a vida do atleta, além de fazer um ajuste no ciclo hormonal. Nossos hormônios funcionam baseados no ciclo circadiano, de 24 horas.
5. Alimente-se adequadamente antes, durante e depois da prova. Fazer dietas para emagrecimento na semana prévia é uma péssima ideia. A alimentação durante uma corrida de 6 horas ou muito mais deve considerar a capacidade de digestão e produção de energia necessária pelos alimentos/suplementos. E não há tempo, nem toaletes abundantes para fazer a chamada “obra”.
6. A hidratação é fundamental. Além de água, devem ser usados eletrólitos. Tudo calculado para cada atleta. O nutricionista deverá fazer todos estes cálculos para você. Um atleta desidratado é um atleta em risco, podendo literalmente “desabar” na prova.
7. Não use medicações que mascarem sintomas. A dor é um sinal de que algo não vai bem, e o uso dos populares anti-inflamatórios não hormonais pode representar um grande risco à sua saúde nestas condições.
8. Enfim, lembre-se: para qualquer tipo de prova, de rua ou de montanha, sempre haverá outra oportunidade. Não se coloque em risco. Não há demérito nenhum em ter de desistir. Muitas vezes isto é um ato de nobreza com seu corpo e com outros à sua volta.

Imagem: Acervo pessoal