DivulgaçãoFoto: Divulgação

Carol Barcellos: zero frescura, vontade de sobra

Adicionada em 02 de setembro de 2016

Um público formado por alguns professores de educação física, corredores e pessoas que apreciam o esforço despendido para realizar façanhas resolveu dar um pulo no Sesc Bom Retiro, nesta quinta-feira (1º) para ouvir as histórias da jornalista Carol Barcellos, que viaja o mundo correndo, escalando, mergulhando. Tudo para produzir matérias para o programa “Planeta Extemo”, da Globo. Nada disso é feito num cenário qualquer. Corrida no Polo Norte ou no deserto do Atacama, escalada em sequóias intermináveis na América do Norte, mergulho em cavernas inexploradas na China. E por aí vai.

Quando a simpática Carol assoma ao palco do Sesc Bom Retiro, na região central de São Paulo, brinca com sua própria imagem. “Muita gente espera um baita mulherão fortão, mas é só isso aqui mesmo. Vim inteira, não faltou nenhum pedaço”, diz a sorridente carioca de 1,61m.

Em sua exposição, Carol tenta justamente desmitificar eventuais projeções fantasiosas que os telespectadores possam formar ao vê-la realizando suas peripécias. Ao fim e ao cabo, a versão nacional da Mulher Maravilha pretende demonstrar que, com muita vontade, disciplina e amor aos treinos é possível fazer o que faz. Afinal, quando começou, Carol era apenas uma garota que gostava de correr por 30 a 40 minutos em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, ou na orla. Quantas cariocas não fazem o mesmo?

 

 

Pouco depois de iniciar o namoro com aquele que tornar-se-ia seu marido, um jornalista acostumado a correr distâncias maiores, ela foi incentivada pelo cara-metade a se inscrever numa prova. Sim, Carol, a moça que congela o pulmão no polo norte e que enfrenta um certo sentimento claustrofóbico para mergulhar com visibilidade de um palmo numa caverna chinesa, um dia foi uma garota que sequer havia se inscrito numa singela prova de 5 km.

Formada jornalista há 12 anos pela Universidade Federal Fluminense, Carol atribui a uma virtude que não é das mais impressionantes o início de sua carreira de “aventureira destemida”. “Acho que o pessoal da Globo me escolheu para essa função porque não tenho nenhuma frescura”, afirma. “Posso ficar quatro dias sem tomar banho se no local não houver estrutura. Não é que eu seja porquinha, é que realmente não me importo”. Da mesma forma, conforto e privacidade estão fora de seu rol de exigências. Ela simplesmente topa praticamente qualquer parada. “Na Maratona do Polo Norte todos se trocam na frente de todos. A gente fica pelado, homens e mulheres. Todo mundo vira bicho”.

Carol realmente se empenha na tentativa de transmitir a noção de que é uma pessoa comum. “Não sou grande corredora, não sou grande escaladora, não sou grande mergulhadora”, diz a jornalista, citando uma marca que fez em meia-maratona, nada realmente impressionante: 1h58min em São Francisco.

E correr maratona não era um projeto de vida. “Não sou boa de tempo, mesmo porque sou treinada para desenvolver a resistência, não a velocidade. No início de tudo, quis correr uma maratona para saber como é, acho que todos devem experimentar essa sensação, ao menos uma vez na vida. E o meu projeto era correr exatamente uma vez só. Corri a de Buenos Aires. E na hora achei f…. Fiquei apaixonada”, sorri. “E existe uma coisa chamada amnésia de corredor. A gente acaba esquecendo tudo o que sofreu no treinamento. Pode até dizer que nunca mais vai correr outra, mas, depois de alguns dias de descanso, inicia outro ciclo de treinamentos”.

Mulher de aço
Da maratona para a ultramaratona foi um passo. Na verdade, milhares ou milhões de passos, mas uma decorrência natural, a extensão de um vício bom. “Dizem que a ultra não faz bem ao corpo, não é saudável. Mas o treino para a ultra treina nossa cabeça. Eu gosto de brigar com minha cabeça, de ser tentada a desistir, mas não desistir. E concluir uma prova dessas te dá uma das melhores sensações que você pode ter na vida. Suportar dores, cansaço, fadiga… Você termina uma prova dessas muito animado e excitado. Tem muito a ver com a vida: a empolgação de iniciar um projeto, as agruras, dúvidas, incertezas e a volta a um estado de euforia. Bom demais”.

No processo, preparação caprichada, rígida e disciplinada, com treinos de musculação voltados para o fortalecimento de tendões, para evitar lesões mais sérias em partes sensíveis, como tornozelos e joelhos. Alimentação adequada, hidratação idem e um beijinho na filha antes de ir à luta. “Abro mão de horas de convívio com ela. Quando estou correndo ultra, lembro que, se abri mão disso, tem que valer a pena. Tenho que chegar até o final”, diz a raçuda jornalista que pretendia cobrir economia, mas não economiza esforço algum.

Quem se empolgar com a euforia de Carol e quiser flutuar nesse mundo de dopamina em que ela levita pode obter maiores informações em um lançamento recente da Editora Planeta. Trata-se de “Quebrando os limites – Como superar desafios na vida”, 160 páginas de muita adrenalina.