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Por: Pedro Lopes
Publicado em 23 de outubro de 2018
Foto: O2Corre
Kathrine Switzer abriu caminho para uma cultura diferente no dia 17 de abril de 1967, uma data que mudou a história do esporte. Decidida a ser protagonista de sua própria vida, ela escolheu a corrida como esporte quando foi aceita no curso de jornalismo da Universidade de Syracuse. Anos antes de se tornar ícone feminino no mundo da corrida, Kathrine teve sua trajetória definida por um conselho de seu pai. Prestes a entrar no ensino médio, ela contou ao pai que cogitava a ideia de ser cheerleader na escola. "Nunca me esquecerei desse dia. Meu pai me olhou nos olhos e disse: 'Você não quer ser uma cheerleader. Torcedores torcem por outras pessoas. Você quer é que torçam por você. A vida é participar, não assistir'”, lembrou. Inspirar pessoas e mostrar que mulheres podem correr são especialidades de Kathrine Switzer. Convidada por uma marca esportiva para uma série de palestras e encontros no Brasil, ela cativou as pessoas por onde passou com sua história de vida, simpatia e coragem. "A corrida me mudou completamente. Nessa época, eu era magra, insegura e sentia que cada milha era uma vitória”, disse. Como a universidade não tinha uma equipe feminina de corrida, a única alternativa era treinar com o time masculino de cross country, comandado pelo treinador Arnie Briggs. [leiamais] Briggs gostava de contar a Kathrine sobre suas experiências na Maratona de Boston, mas foi pego de surpresa quando a pupila revelou que gostaria de se aventurar na prova. “Mulheres são muito frágeis para uma maratona”, repetia o treinador. Oficialmente, as mulheres não eram impedidas de disputar a Maratona de Boston. Não havia um item sequer do regulamento que vetasse a presença de corredoras, porém era forte a crença limitante de que mulheres não eram capazes de correr 42.195 metros. “A ideia de correr longas distâncias era questionável entre as mulheres, porque, na cabeça de muita gente, uma atividade esportiva intensa faria com que a mulher ficasse com pernas grandes, tivesse bigode, pelos no peito e o útero deixasse de funcionar”, recorda a americana. Fã dos escritores J. D. Salinger e T. S. Eliot, Kathrine não se importou com os comentários negativos e se inscreveu na Maratona de Boston com suas iniciais (K. V. Switzer). Ainda que a organização imaginasse que se tratava de um formulário preenchido por um homem, era a primeira vez que uma mulher entrava oficialmente em uma maratona, um território exclusivamente masculino até então. Na manhã da prova, com o número de peito 261 fixado em seu moletom cinza, a jovem de 20 anos largou ao lado de seu namorado, Tom Miller. “Antes da prova, outros corredores foram simpáticos comigo. Diziam: 'Olha só, é uma garota'. Eles estavam empolgados. Briggs repetia: 'Sim, eu que a treino'.” O clima amigável acabou no km 3. Repleto de fotógrafos, o caminhão de imprensa acompanhava todas as passadas de Kathrine. “Eu escutava os fotógrafos pedindo para que corrêssemos devagar porque queriam fotografar aquele momento”, relata. A movimentação chamou a atenção de Jock Semple, escocês que comandava a prova com rigidez. Depois de saber que havia uma mulher entre os participantes, Semple se apressou para afastá-la. Com truculência, empurrou a jovem e ordenou: “Caia fora da minha corrida e me dê esse número de peito”. Essa sequência tão emblemática foi clicada pelos fotógrafos e roda o mundo até hoje.
Kathrine Switzer sendo empurrada por Jock Semple na Maratona de Boston de 1967
Pelotão de elite feminino na Maratona de Boston
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