Idade X performance: o que muda?

Marcello Butenas
Adicionada em 18 de maio de 2020

Esta é uma ótima pergunta para aqueles corredores que, quando chegam aos 50 ou 60 anos, começam a sentir o peso da idade na performance. 

O processo de envelhecimento é natural, inclusive em atletas — que, aliás, muitas vezes envelhecem “melhor” do que pessoas sedentárias pela prática de atividade física regular e cuidados com a alimentação. Mas o que fazer para diminuir o impacto desse processo natural na performance esportiva?

Existem estratégias que podem ser adotadas na rotina de treinamento de um atleta maduro, e assim amenizar esse resultado de decréscimo na performance. Quatro premissas deverão ser trabalhadas: duas nos treinos com foco fisiológico, uma terceira relativa ao controle direto de sua composição corporal (peso e relação entre massa magra e gordura). A quarta é a realização de trabalhos complementares específicos, como treinamento muscular, funcional e elástico (liberação miofascial e treinamento do sistema elástico dos membros inferiores).

VO2 máx é a quantidade de O2 (oxigênio) que o corpo consegue carregar e utilizar por quilo em um minuto. Está relacionado aos músculos, consumidores diretos de oxigênio no exercício. Se você possui um percentual de gordura de 9% com peso de 70 kg, seu VO2 máx é superior a se você tivesse os mesmos 70 kg, mas com 15% de percentual de gordura. Isso significa uma diferença de 6% de massa produtiva (musculatura) a mais e capacidade de performance maior também.

Quanto aos efeitos fisiológicos, a Frequência Cardíaca Máxima decresce com a idade, pelo menos um batimento por ano, a partir dos 40 — o que pode acarretar paralelamente uma maior utilização de oxigênio. As estratégias de treinamento que podem ser utilizadas para amenizar essa diminuição são aumento do volume de treino em determinadas fases da periodização, assim como a realização de treinos de intensidade alta, para manter a frequência cardíaca elevada, ou acostumar o coração a continuar batendo rápido em alguns momentos durante os treinamentos.

A coordenação neuromotora cai ao final dos esforços de longa duração (como uma maratona). Com exercícios de alta intensidade, o organismo se acostuma a trabalhar e manter o nível de qualidade de movimento mesmo sob estresse e tempo prolongado de esforço.

Estudos recentes apresentaram um novo sistema em nosso corpo: o sistema fascial, ou miofascial, responsável por grande parcela de nossa função motriz e que engloba o corpo como um todo, literalmente da cabeça aos pés, e que, bem trabalhado, pode amenizar os efeitos funcionais e biomecânicos do envelhecimento. Atletas maduros devem valer-se do autoconhecimento e da experiência, respeitar seus limites para esses tipos de trabalho e descobrir se realmente querem se esforçar a tal ponto para chegar mais longe, ou mesmo manter determinado resultado já alcançado anteriormente.

Marcello Butenas

Marcello Butenas

Marcello Butenas é treinador de triathlon e de corrida desde 1990 e é diretor técnico da Butenas Assessoria Esportiva. Como atleta foi vice-campeão brasileiro de triathlon em 1991, tetra-campeão paulista em 1992, 1993, 1995 e 1996 e participou de Ironmans no Havaí em 1992, 1995 e 1996, no Brasil, em 2002 e 2007, e na Alemanha, em 2012, com recorde pessoal de 9h24min. É colunista da revista O2.

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