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Por: Stephanie Calazans
Publicado em 24 de setembro de 2025
Foto: O2Corre
Neste Artigo
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Setembro já está chegando ao fim, mas o tema que marca esse mês tão simbólico merece ser tratado e repercutido o ano inteiro. A campanha Setembro Amarelo, dedicada à conscientização sobre a importância da saúde mental e à prevenção do suicídio, traz luz a um dos maiores problemas da nossa sociedade atual. Segundo dados da OMS, o Brasil é o país número 1 no ranking de pessoas sofrendo com a ansiedade (sendo mais de 18 milhões, cerca de 9,3% da população nacional – uma taxa significativamente superior à média mundial de 3,6%) e líder da América Latina quando o assunto é depressão: 4,97% da população sofre com essa condição, o que equivale a mais de 10 milhões de pessoas, de acordo com o World Population Review.
Esses dados evidenciam o quanto a sociedade como um todo está adoecendo e precisa repensar hábitos e prioridades. Além de procurar ajuda profissional para conseguir lidar e acolher as próprias emoções, é preciso encontrar caminhos saudáveis e entender de uma vez que corpo e mente são integrados. Ao passar com um profissional da saúde mental, você pode estar certo de que ele vai te indicar um remédio natural e extremamente poderoso no auxílio contra essas doenças limitantes: o exercício físico.
A corrida de rua pode aparecer como o aliado perfeito em busca desse objetivo. É um esporte democrático e extremamente maleável: além de não precisar de um local específico para treinar, você faz seu tempo e seu horário, precisando apenas de autorização médica, roupas confortáveis, um bom par de tênis e força de vontade – ou disciplina, nos casos em que a disposição não vem.
Segundo Francisco Carlos Gomes, psicólogo clínico mestre em Psicologia Social, “o exercício campeão na luta contra ansiedade e depressão é a caminhada. Prepare-se para esse momento: escolha uma roupa adequada, tênis e estabeleça uma rotina. Caminhar coloca o corpo em movimento e organiza a mente. Depois, evolua para a corrida: ela tem ritmo, melhora o sono, a autoestima. Não substitui a medicação, mas comprovadamente ajuda na diminuição do uso de remédios”.
Além da importância da questão dos medicamentos, Larissa Fonseca, psicóloga clínica doutoranda da Unifesp em Ansiedade, Depressão, Estresse, ressalta os efeitos positivos da corrida no cérebro.
É uma atividade que evolui pelo esforço contínuo, que pode ser percebido através do tempo e distância percorrida. Ter essa medida, para quem está vivendo sob estresse, ansiedade ou depressão, restaura o equilíbrio mental. Além disso, correr pode funcionar como uma meditação em movimento, um espaço para a pessoa se encontrar consigo mesma, refletir, chorar, lembrar, ou até simplesmente estar no silêncio interno.”
Ainda segundo a especialista, “quando movimentamos o corpo, neurotransmissores provocam alterações físicas relacionadas ao bem-estar, alegria e motivação. Essas alterações desencadeiam efeitos mentais e emocionais. A atividade física aeróbica libera substâncias químicas no cérebro, como serotonina e dopamina, que trazem sensação de bem-estar e ajudam a regular o humor. Mas além dessa dimensão neuroquímica, existe o aspecto simbólico. Exercitar o corpo é uma forma de movimentar aquilo que está embotado afetivamente, seja a emoção ou o pensamento.”
Além da depressão e ansiedade propriamente ditas, existe outro sentimento nebuloso e profundo que costuma aparecer com mais força durante o Setembro Amarelo: o luto.
“O luto provoca uma profunda reorganização do corpo e da mente”, começa Larissa. “O processo não é linear. É quase como uma montanha russa: há momentos de maior sofrimento e outros de aparente melhora. Há um sentimento constante de culpa quando vivencia momentos mais alegres. É um processo que pede acolhimento, tempo e paciência para que a pessoa possa se reorganizar emocionalmente e se adaptar à nova realidade”.
“O luto não é uma doença, é uma resposta do corpo e mente – o que é muito diferente. É um processo de tristeza que reverbera no físico: o corpo retrai, vem a alteração de sono, apetite, e uma série de mudanças no nosso organismo que afetam diretamente nosso psicológico – que já está sofrendo com a ausência, a tristeza e até a irritação”, conclui Francisco.
Para ajudar nesse processo, a corrida é uma grande aliada, já que, nas palavras de Francisco, “traz novos estímulos, principalmente visuais. O esporte te tira do estado de mesmice que o luto instaura. Levantar, sair de casa, ver pessoas, admirar paisagens: tudo isso auxilia e traz uma reconexão com a história de quem está em sofrimento”.
Larissa ainda ressalta a importância da rotina, que reorganiza toda a instabilidade vivida nesse período difícil, e da disciplina: ambas não devem ser vistas como obrigação, mas como autocuidado.
“É importante associar a prática física a um momento de cuidado consigo mesmo, criando rituais que facilitem a adesão, como ouvir músicas que tragam conforto ou escolher horários e ambientes agradáveis. Estabelecer pequenas metas simbólicas, como dedicar o exercício ao próprio processo de superação, também será um incentivo poderoso, já que essa força está associada a um propósito maior. Ter apoio de alguém, mesmo que apenas para compartilhar o compromisso, ajuda a manter a constância. Desenvolver um ritual de separar a roupa, deixar o tênis e até tempo separado em agenda para cumprir o exercício são fundamentais”.
Cuidar da saúde mental é um compromisso diário. Pequenos passos, disciplina e autocuidado são capazes de transformar dor em força, proporcionando equilíbrio emocional e físico.
Se estiver passando por períodos de depressão e ansiedade, procure ajuda profissional.
Crédito da imagem: Envato