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Ela fez história: os bastidores da travessia épica de Fernanda Maciel nos Pirineus

Por: Stephanie Calazans

Publicado em 25 de julho de 2025

Fernanda Maciel sets new Fastest Known Time (FKT) on Oceania's highest peak

Foto: O2Corre

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Fernanda Maciel acaba de realizar mais um feito histórico. A ultramaratonista – advogada ambiental, empresária e nutricionista esportiva – que já participou de expedições internacionais de 600 km “non-stop”, ou seja, uma combinação de canoagem, mountain bike, trail running, triatlo e maratonas de montanha, já tinha se consagrado ao ser a primeira mulher a percorrer correndo o Caminho de Santiago de Compostela. E, na ocasião, não foi apenas para entrar para a história que ela concluiu esse desafio: o objetivo era arrecadar fundos para instituições que auxiliam crianças com câncer.

Agora, a mineira cravou de vez seu nome que já era referência no trail running. Ao concluir o percurso de Transpirenaica (GR11), ela se tornou oficialmente a primeira e única mulher a registrar um tempo oficial nessa travessia.

Para alcançar essa marca, ela precisou percorrer os 786 km que ligam o Cabo Higuer, no País Basco, ao Cap de Creus, na Catalunha, sendo desafiada por 35.000 mil metros de desnível positivo. E o tempo que ela levou para fazer isso? Doze dias, doze horas e nove minutos. Se já parece impressionante, é mesmo. Essa travessia costuma levar 40 dias para ser concluída.

 

Travessia de Transpirenaica

O desafio, que já é difícil por si só, ainda foi realizado totalmente de forma solo. Fernanda esteve sozinha — contando apenas com sua força física, mental e grande experiência acumulada durante sua trajetória — enfrentando uma média diária de mais de 60 km, 2.800 metros de subida, terrenos inóspitos, clima instável e uma mochila de mais de 5 kg nas costas. Sabia que, a partir das 17h, as tempestades eram certas – acompanhadas de muito frio, neblina e relâmpagos. Por isso, largava às 3h da manhã.

O que te faz concluir mesmo é o corpo. É ele que vai dizer se vou parar ou continuar, ele é o limite. Além de estar bem preparada fisicamente, eu trabalhei também as minhas emoções e sentimentos, porque quando a mente está cansada, é a força interna que vai te levar até o final. É você visualizando sua chegada que te impulsiona a continuar.

E, assim como o corpo enfrentava os desafios físicos – ela não podia correr o risco de escorregar ou de torcer o pé, situações que poderiam ser fatais – a mente também lidava com os psicológicos.

“Eu senti medo, muito medo. Corria de 12h a 16h por dia. Passava muitos dias completamente sozinha, sem conversar com ninguém, sem ver ninguém, em montanhas totalmente selvagens”.

E ela fez tudo isso sem qualquer apoio externo: a autossuficiência e o planejamento minucioso não eram apenas parte da estratégia — eram condição fundamental para sua segurança e sobrevivência.

 

Momento crítico

Fernanda relata que passou por um momento aflitivo, em que ela chegou a pensar em comunicar seu marido, que fazia parte da equipe de emergência. Para aumentar ainda mais sua ansiedade, não havia cobertura no local.

“Eu já estava correndo há mais ou menos dez horas. Subi uma montanha muito íngreme de 1.500 metros e, quando cheguei no topo, descobri que tinham mais três assim pela frente. Aquilo foi assustador”.

A situação aconteceu mais ou menos no décimo dia de travessia. Ela conta que, ao chegar no cume, acreditou que era só descer e chegar no abrigo. Mas encontrou uma placa que indicava que ainda teriam mais sete horas e meia pela frente, e ela chegou a acreditar que não conseguiria mais.

Depois de mais umas três horas, o medo começou a tomar conta de mim. Ainda estava muito longe e as nuvens começavam a aparecer. Se eu pegasse uma tempestade ali, eu não sobreviveria. Nessa hora, minha perna começou a falhar e eu comecei a ficar mareada, enjoada. A vista começou a embaçar.

Ela relata ainda que apelou para todos os recursos – sais, açúcar, água – mas não se tratava de hipoglicemia, nem desidratação. Nada ajudava. Até que ela avistou duas mulheres.

“Eu pedi para elas ficarem comigo, não saírem do meu lado. Eu precisava fechar os olhos por quinze minutos. Eu já estava no limite. Depois desse descanso mental, eu consegui continuar”.

 

A atleta

Mas, apesar de ser uma conquista impressionante, não é surpresa que tenha vindo dos pés de quem veio: o principal nome do esporte, não só no Brasil, mas no mundo.

Fernanda Maciel já recebeu diversos prêmios durante sua trajetória, além de ter sido reconhecida como a melhor corredora brasileira de trail running em 2019. Comprovando que sua influência vai além do esporte, ela também foi escolhida para representar a campanha #TheHumanRace, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com o objetivo de promover e incentivar a conscientização sobre a importância da preservação ambiental e os perigos das mudanças climáticas.

Personificação da palavra “resiliência”, Fernanda tem em seu currículo uma gama de vitórias e marcos históricos. Ela bateu o recorde mundial ao ser a primeira mulher a subir e descer o Aconcágua em menos de 24 horas, e estabeleceu mais outros dois recordes ao subir e descer correndo o Monte Vinson, na Antártida: o de subida mais rápida (6h40min) e de tempo somando tanto subida quanto descida (9h41min).

Imagens: Red Bull Content

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Corrida

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