Uma prova começa mesmo só na linha de largada?

Arthur Borelli
Adicionada em 03 de maio de 2017

Tenho percebido nos últimos tempos um movimento grande por parte dos organizadores de provas em oferecer o famoso “algo a mais” para os atletas/consumidores. Vou exemplificar: antigamente, as provas de triathlon ofereciam exclusivamente determinadas distâncias e ponto final. Atualmente, além destas, eles incluem prova infantil, 10k para mulheres na véspera, revezamento e tantos outros sub-eventos.

Pois bem. O que gostaria de debater hoje é que um evento não começa na linha de largada e acaba na linha de chegada. Bem ou mal, os organizadores oferecem uma feira antes da prova, congresso técnico, palestras, jantar de massas e etc.

Além disso, após a tal linha de chegada, ocorre uma confraternização para premiar todos campeões, homenagear figuras importantes e até mesmo ter aquele agradecimento final, certo? Então por que é possível contar nos dedos quantos atletas vão a esses demais “eventos”?

Há quem diga que a feira não tem nada de bom, que já sabe tudo o que será falado na palestra ou até mesmo que já estudou muito bem o percurso e as regras da prova, portanto não há a necessidade de estar lá. Ou pior: o atleta não teve resultado suficiente para levantar um troféu e por isso não vai até a premiação valorizar a vitória do outro, tampouco engrandecer o evento que ele mesmo participou.

No meu ponto de vista, trata-se de um ciclo vicioso. Querem um exemplo? O atleta não vai na feira porque não tem nada de interessante. A marca, por sua vez, também não investe no evento porque ninguém vai na feira. Já o organizador fica sem a respectiva verba do patrocinador, reduz o padrão do evento e o atleta vai reclamar da qualidade (claro!).

 

 

Já discuti esse assunto com alguns grandes organizadores com os quais tenho contato e é fato que cabe a eles inovar, oferecer algo realmente diferente para que o atleta tenha uma experiência única – importante colocar desta forma pois está na moda falar da “experiência do consumidor” – mas é fundamental que cada um faça sua parte. Somente assim um poderá exigir do outro novidades, inovações, segurança, etc.

Um ponto importante. Eu me incluo neste cenário e venho trabalhando isso muito em função das duas últimas experiências em competições: o Ironman 70.3 de Buenos Aires e o mais recente Ironman 70.3 Lima. Resumidamente, em Buenos Aires, não fui ao congresso técnico justamente porque achava que sabia tudo, estava concentrado e queria voltar logo para o hotel. Pois bem. Houve uma mudança no percurso dos 21km de corrida da prova e eu só soube lá quando estava com 10 km percorridos e não via a parte que estava prevista inicialmente!

Já em Lima, eu fui até a premiação com a expectativa de garantir minha vaga para o Campeonato Mundial de Ironman 70.3 e fiquei até sem graça tamanha minha comemoração quando fui chamado, diante de talvez 50 ou 100 atletas presentes (importante citar que eram 1.600 inscritos). Não havia alegria ali. Parecia uma obrigação ou algo normal… Como assim? O cara foi campeão de um Ironman 70.3 e… ok? Acho mesmo que estamos muito doidos.

Partindo de que apenas 6% da população do mundo realiza treinamentos orientados, será que esse cara sabe em que seleto grupo ele está sendo campeão de uma prova deste porte? E os demais que ali estavam? Não foram campeões, mas terminaram suas respectivas provas e fazem parte de uma mínima fatia de pessoas no mundo capazes de percorrer aquela distância naquela intensidade. E os outros 1.500 atletas que nem lá estiveram? Nem preciso falar…

Em minha palestra “Muito além da linha de chegada” não entro neste mérito operacional de um evento esportivo, claro. Lá, o foco é evidenciar que uma competição começa ainda no momento em que você faz a sua inscrição, passa por toda preparação, a realização do evento em si e que, no passo seguinte à linha de chegada, uma nova história tem início.

Na sua vida pessoal e profissional isso ocorre da mesma forma e, por isso, o esporte é uma grande escola. Então, por que viver tudo que um evento lhe oferece apenas da linha de largada até a chegada? Será que estamos deixando de ter uma experiência no mínimo diferente? Conhecer pessoas? Aprender? O que acham? Quero ouvir comentários, críticas e tudo mais.

Um forte abraço!

Arthur Borelli

Arthur Borelli

Empresário e atleta amador, Borelli direcionou sua vida profissional e pessoal para o esporte e garante que foi a melhor escolha que fez na vida. Atualmente, transita entre maratonas, corridas de montanha e triathlon. Movido por desafios, busca provas cada vez mais singulares, longas e em lugares diferentes. Tudo isso para conectar seus dois grandes prazeres: competir e viajar!

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