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Aquele velho dilema da comida: comer como um rei ou como um faquir?

Anne Dias
Adicionada em 18 de setembro de 2018

Certa vez fui à casa de um contatinho corredor. Ele me levou até a cozinha para mostrar, orgulhoso, a comida de astronauta que tomava de suplemento. Era uma quantidade de barris de pó para antes e depois do treino.

Achei aquilo meio maluco, uma vez que nós dois somos 100% amadores e, dito isso, jamais iríamos pegar pódio ou ultrapassar o Vanderlei Cordeiro. Pedimos uma pizza. Eu comi quatro pedaços e teria comido mais. O sujeito, que tinha o dobro do meu porte atlético, comeu só um.

Ele era um ex-gordinho e, desde que havia perdido dezenas de quilos, nunca mais encheu a pança.

— Você toma suplemento pacas, evita comer tranqueira e fica nessa eterna busca do sub-3h50min em maratona. Pra quê? — perguntei

— Eu sou 3h40min em maratona. Falta muito pouco para meu RP. Se o custo é menos pizza e mais suplemento, eu pago.

Como não sou nutricionista e mal ouço ou leio o que eles falam, deixei para lá. Beeeem para lá, diga-se. Já corri longão com o bucho cheio de brigadeiro e prova de 15 km apenas com café preto — a segunda opção é infinitamente melhor. Água: tomo pouco.

Aquelas regras que rezam que carboidrato deve ser ingerido antes do treino e proteína depois, ou vice-versa, eu nunca consegui decorar e acho tudo isso um saco.

 

 

Há uns seis meses descobri o poder do guaraná de uma marca bem popular, doce como cana-de-açúcar in natura. O negócio entra no seu corpo e domina sua alma. Você vira o capeta do asfalto, mas isso dura uns 25 minutos, se tanto.

Eu corro de verdade há uns cinco anos. Nos últimos quatro parei de tomar refrigerante e deixei a Nutella com meu filho. De uns tempos para cá, está cada vez mais difícil comer doce, exceto sorvete e uns determinados tipos de brigadeiro — todos.

O que eu sinto é que vem acontecendo uma seleção natural da minha comida. Não é racional, até porque arroz com feijão jamais foi ou será ignorado por esta pessoa. Mas gordura pesada vem se tornando intragável. Pão está perdendo a graça, ocupa muito espaço e não mata a fome por horas. Já as saladas, com aquele alto teor de água, vêm fazendo minha cabeça. Suco de qualquer coisa eu amo.

Isso não quer dizer que eu tenha me tornado a Bela Gil das corridas. Até porque, conforme você vai envelhecendo, seu paladar envelhece junto. Soma-se ao fato de a corrida exigir cada vez mais de você e pronto, menos gordura, mais leveza.

Se você reza a cartilha dos nutris e vê resultado nisso, mergulhe de cabeça. Mas se você é dos que come qualquer coisa e ora para que tudo dê certo porque não vai mudar, faça isso. É só uma laia não encher o saco da outra. E todos viveremos bem, com ou sem barril de suplemento. Nem de pança, por favor.

Anne Dias

Anne Dias

Jornalista com especialização em economia e com nove meia maratonas no currículo: duas W21, Meia Maratona das Pontes (Brasília), Disney, Corpore, São Paulo, Uberlândia, Porto Alegre e duas Golden 4 Asics. Concluiu também duas maratonas: Nova York e Buenos Aires. E não pretende parar.

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