Monitorização de glicose em tempo real

Gustavo Cosenza
Adicionada em 16 de fevereiro de 2023

Analisar dados é um dos artifícios mais utilizados quando queremos entender e melhorar qualquer coisa, se você quer melhorar a saúde econômica do seu negócio, provavelmente você vai sentar e parar para analisar os dados de entrada, saída, para aonde estão indo os investimentos e quanto mais informações você tiver, provavelmente melhor será o resultado da sua análise. Quando falamos em performance esportiva, dados são tão importante quanto e, da mesma forma que em uma analise financeira, esses dados podem lhe trazer novas nuances e possibilidades de melhora. Ao mesmo tempo você tem que tomar cuidado com a forma como está fazendo está analise, para não ficar refém de apenas um número.

Com está linha de raciocínio, vamos falar um pouco uma novidade da corrida e performance, monitorização de glicose em tempo real com sensores. Você já ouviu falar sobre isso?

Antes um recurso utilizado apenas por pacientes com diabetes, em sua maioria diabetes tipo 1 dependente de insulina, a monitorização passou a ser alvo de atletas, especialmente atletas de Endurance. O sensor implantado geralmente na parte de trás do braço, monitora 24 horas a glicose intersticial, esta por sua vez é muito próxima dos valores encontrados na glicose sanguínea, possibilitando termos dados em tempo real sem que a gente precise remover uma gota de sangue.

Mas por que um atleta utiliza a monitorização de glicose contínua sem ter diabetes?

Manter a glicemia em concentrações estáveis parece ser um determinante na performance em Endurance. Monitorar essa variação e traçar estratégias para evitar ficar sem energia em uma corrida é uma forma inteligente de entender melhor o corpo em situações de desgaste e planejar o plano de reabastecimento de energia.

Quais dados o monitor de glicose nos fornece?

Existem várias métricas que esse tipo de dispositivo fornece, desde os valores de glicose em tempo real como também a taxa de variação de glicose frente ao exercício ou a um alimento, o que pode ser mais relacionado a como aquele atleta se sente, quedas bruscas por exemplo, podem estar relacionadas a sensação de cansaço e queda de energia, portanto saber como a a glicose está se movimentando é um dado importante.

Para diabéticos que apresentam glicemia fora dos alvos desejados, o monitor fornece dados como por exemplo, o tempo em que a glicemia permaneceu no alvo, ou quantos episódios de hipoglicemia aquela pessoa apresentou ao longo de um período, dados importantes para ajustes em medicações e alimentação.

Existem ainda scores de abastecimento ou “fueling scores” como as empresas especializadas neste tipo de monitorização costumam chamar, que seria um score individual frente as variações encontradas no sensor a determinado esforço e a alimentação realizada.

Este dado ainda é objeto de pesquisa e, como qualquer processo de observação, feedback é algo imprescindível para avaliar os dados obtidos e programar intervenções. Talvez esse seja a principal função do sensor em pessoas sem diabetes, um dado a mais para ajudar na tomada de decisões alimentares.

Como utilizamos o sensor durante o treino?

Isso depende em qual fase do treinamento você está. Se você está e um período em que você pode fazer testes você pode utilizar diferentes tipos de géis ou barras sólidas, bem como o momento de utilizar cada um desses. Se você está em uma fase que permite treinos com menor intensidade e maior duração, você pode testar a sua a ‘”adaptação cetogênica” avaliando a capacidade do seu organismo manter sua glicose estável e em níveis adequados treinando com baixo consumo de carboidrato. Outra forma interessante de utilizar o sensor é avaliar momentos de quebra e correlacionar estes com os níveis de glicemia para realizar futuras adaptações no fornecimento de energia.

Quanto mais dados adquiridos, mais avaliações podem ser feitas e adaptações para o dia da prova.

E como você visualiza os dados?

Basta aproximar seu celular do sensor implantado no braço para fazer a leitura. Você pode fazer isso quando parar para se hidratar ou apenas fazer a leitura quando terminar o treino, visualizando todos os dados do treino realizado. Existem aplicativos específicos para isso, como por exemplo, o Supersapiens. Porém no Brasil eles ainda não estão disponíveis, por aqui podemos visualizar pelo app do fabricante o Librelink da Abbott, mais voltado para controle de diabetes, porém ainda assim útil para visualização de dados no treino.

Quais são os valores ideais de glicose para treino?

O uso em atletas/indivíduos que não tem diabetes ainda é relativamente novo, portanto, ainda não existem valores fixados. Porém alguns pontos parecem ser mais determinantes, como por exemplo, momentos de hipoglicemia e grandes variações no perfil glicêmico.

Glicemia é algo multifatorial. Estresse, exercício, alimentação, são elementos que podem influenciar os valores glicêmicos. Um treino muito intenso, por exemplo, gera aumento glicêmico, enquanto um treino leve tende a não ocasionar grandes mudanças. Avaliar e correlacionar esses dados pode ser interessante para avaliar o quanto o esforço está adequado a planilha de treino prescrita.

Posso utilizar o sensor em dias de prova?

Pode. Porém, lembre-se que dias de provas são mais estressantes e isso pode ocasionar aumentos em glicemia que nem sempre são relevantes. Além disso, em provas é muito difícil que você consiga fazer uma leitura durante a corrida. Talvez quando a leitura se transformar possível com smartwatch isso possa se transformar em algo mais factível.

Apesar da leitura em tempo real seja algo mais complicado, a avaliação pós prova pode ser bem interessante para tirar lições para próximas provas.

Existem outros usos possíveis?

Sim, avaliação de resposta a alimentação para melhora comportamental a alimentação, bem como o uso para avaliação de glicose noturna e avaliação de recovery podem ser possíveis usos futuros desse tipo de tecnologia.

Gustavo Cosenza

Gustavo Cosenza

Endocrinologista RQE: 90613. Med. esportiva-UNIFESP. Nutrologia.

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