Saiba o que é memória muscular e o que acontece quando paramos de treinar

Adicionada em 28 de abril de 2023

A memória muscular envolve um tipo de memória processual do corpo, sendo baseada na consolidação de uma tarefa motora específica na memória por meio de repetição.

Muitos acreditam que as memórias se concentram no cérebro. E isso é verdade, mas apenas uma parte delas está lá. A outra parte fica distribuída pelo nosso corpo e pode durar uma vida inteira”, disse Marcel Sera, fisioterapeuta, palestrante e atleta amador, em coluna prévia na O2.

Certamente você não lembra de como foi seu desempenho na primeira vez que tentou escovar os dentes. Hoje em dia, você consegue fazê-lo vendo um celular, enquanto se comunica com alguém. Neste caso, de onde vem essa memória? Após um tempo de treinos, ela fica no sistema que engloba os músculos e tudo que os mantém vivos e ativos, como nervos, vasos sanguíneos e outras estruturas de suporte.

Isso tudo, de modo bem prático, podemos chamar de memória muscular (mas também pode ser chamada de memória motora, entre outras denominações). Por exemplo, é ela que nos faz andar sem pensar na quantidade de força que precisamos fazer em cada articulação do corpo (já pensou?)”

Afinal, o que é memória muscular?

Indo mais além, sabemos que uma pessoa atualmente sedentária há vários anos, mas com um passado (mesmo que longínquo) fisicamente ativo, consegue desenvolver um condicionamento físico mais rápido e em menor espaço de tempo treinando quando comparada a uma pessoa sem nenhum histórico de práticas físicas. Isso acontece porque o corpo do primeiro indivíduo já sabe o caminho que precisa seguir para desenvolver músculos e melhorar seus suprimentos, ou seja, as informações estão memorizadas nas fibras musculares e nos seus sistemas de apoio.

Agora, falando sobre corrida, é possível entender como alguns atletas mais experientes conseguem treinar bem menos e ter resultados mais expressivos que os iniciantes que treinam muito mais. Na prática, é a diferença entre os treinos para a primeira e a décima prova de mesma distância (quando não se pensa em baixar o tempo).

As fibras musculares do corredor experiente são mais desenvolvidas para resistência, seu aporte sanguíneo é mais desenvolvido, as trocas de gases e nutrientes entre o sangue e as fibras musculares é mais eficiente, o controle dos nervos é mais sutil, o gasto energético é menor e consequentemente o músculo esquenta menos, cansa mais lentamente e ainda tem uma reserva para quando precisar fazer mais força ainda!”, esninou Sera

Isso tudo é a memória do corpo e raramente ele esquece. A única coisa que pode realmente tirá-la é alguma lesão, segundo o especialista, mais séria, que gera um monte de compensações no corpo todo, criando a memória da dor. E esta, sim, precisa ser combatida para que não atrapalhe o nosso rendimento (por isso as lesões são pesadelos para muitos atletas).

O que acontece ao parar de treinar?

Lesão, rotina apertada no trabalho, viagens. Os motivos são variados, mas a maioria dos corredores enfrentará, em algum momento da vida, um período sem treinar. E não é preciso um longo período de pausa para que nosso corpo comece a sentir os efeitos do tempo parado. Fôlego, força e até coordenação podem ser afetados pelo destreino.

Em suma, quanto mais treinado e fisicamente apto, menos o atleta é afetado por um período sem treino. E mais facilidades encontrará para retomar a prática, mesmo que em volume e intensidade inferiores a antes, pelo desenvolvimento de uma memória muscular mais forte.

Com sete dias de pausa, por exemplo, um atleta bem treinado não sofre grande interferência em seu condicionamento físico. Já os iniciantes podem sentir a falta de ritmo durante a corrida, além de dores musculares.

Mas com 15 dias de exercício fisco, o metabolismo já pode se tornar mais lento, o que pode dificultar o controle de peso. Uma queda na força, resistência muscular, capacidade cardiorrespiratória e no percentual de massa magra no corpo também são sentidos. E até mesmo por atletas com bom histórico atlético.

O corpo tem um processo básico de sobrevivência em que ele procura armazenar energia e poupar forças. A partir do momento em que não há mais estímulos por meio do treinamento físico, o atleta tende a perder o que foi conquistado ao longo do tempo,” explicou o fisiologista do exercício Rodrigo Nicoleti eme ntrevista prévia.

Um estudo publicado no Journal of Applied Physiology mostrou que atletas com níveis altos de treinamentos que ficaram 21 dias sem treinar tiveram uma queda de 7% no Vo2máx – capacidade máxima de oxigênio que o organismo consegue utilizar durante o exercício, importante indicador de condicionamento físico.

Além disso, com alguns meses parado o corpo perde parte de sua capacidade de fazer movimentos precisos, pela diminuição da coordenação motora fina. Na corrida, isso significa uma técnica de corrida deteriorada.

As consequências de ficar sem treinar são parecidas com as do sedentarismo, o indivíduo entra em destreino e quanto mais tempo parado, mais força e resistência seus músculos perdem”, explicou o profissional de educação física Daniel Leão em entrevista prévia.

A queda no rendimento acontece pelo retorno dos músculos à condição de homeostase, sua zona de conforto. Com a rotina de treinos, são geradas inflamações, microlesões, musculares para que se inicie o processo de regeneração – responsável por tornar o corpo mais forte e resistente, pois o músculo entende que precisa se fortalecer para evitar novas lesões –  o que deixa de acontecer quando enfrentamos um período sem exercício.