Ricardo SoaresFoto: Ricardo Soares

Veja os benefícios da corrida para as mulheres no período da TPM

Adicionada em 03 de agosto de 2023

Todos os meses as mulheres estão sujeitas a cólica abdominal, inchaço, retenção de líquido, mama sensível, dores de cabeça e outros incômodos. A TPM, a popular tensão pré-menstrual, deixa até as corredoras mais fiéis aos treinos hesitantes em seguir no mesmo ritmo. Pode bater aquele peso na consciência por desacelerar o passo, mas o ideal é sempre buscar conforto e segurança nas pistas, sem precisar pendurar os tênis.

Entre uma passada e outra, é possível minimizar todo o mal-estar do período. Essa melhora dos incômodos ocorre porque a TPM é basicamente um desequilíbrio hormonal. “Um dos tipos, a Tensão Disfólica Pré- Menstrual, está relacionado aos neurotransmissores, principalmente à falta da serotonina”, explica Sergio dos Passos Ramos, ginecologista da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp). Esse hormônio, um dos responsáveis pelo prazer, é estimulado na região cerebral pela atividade física, dando um basta nas constantes mudanças de humor.

Analgésico natural

Manter-se exercitada na TPM tem impacto até mesmo sobre aquela loucura por chocolate nos dias de tensão, uma vez que a atividade reduz o cortisol, o hormônio que deixa a mulherada estressada e, consequentemente, com desejo voraz de doce. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Connecticut (EUA) reforça a teoria de que a corrida é bem-vinda na TPM não só por essa regulação hormonal, mas pela liberação da endorfina. A raiz do nome (endo – interno + morfina – analgésico) não esconde esse potencial.

O exercício intenso pode diminuir também o inchaço provocado pela progesterona em alta no período, além da sensação de que seu peso corporal duplicou. Vale dizer que corredoras têm tendência a reter líquido especialmente nos membros inferiores.

O alívio vem graças à melhora da circulação no organismo. Sem esquecer de que com a corrida elimina-se mais líquido pelo suor e respiração, diminuindo as chances de sua retenção no corpo. Os efeitos, entretanto, são gradativos e evoluem na medida em que a mulher se adapta à performance.

Cuidados

Seguir a planilha de treino, no entanto, pode trazer desconforto a muitas atletas na TPM. As mamas, por exemplo, ficam mais pesadas e doloridas, devido às modificações que o tecido mamário sofre com a montanha-russa hormonal. Para garantir segurança máxima, prefira modelagens com costas estilo nadador e alças largas, além de costura especial para sustentação dos seios, sem achatá-los.

Se você sofre com cólica abdominal (estimulada pela alta do hormônio prostaglandina, que provoca a contração do útero), exercitar a região pélvica e fortalecer o abdome são boas ações preventivas. Para aliviar a tensão pós-treino, não pule o alongamento depois de percorrer seus quilômetros: a retenção de líquido na TPM, mais uma vez, é a culpada da história, causando insistentes dores musculares. “Os músculos mais beneficiados são o trapézio (na região das costas, próximo à nuca), a lombar, a coxa e os glúteos”, indica o médico do esporte Jomar Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE).

Tenha respeito ao ciclo

Em situações extremas, o exercício intenso é considerado uma forma de estressar o organismo. O cérebro entende que o corpo da mulher – colocado nesse limite físico do esporte – não pode dar conta de uma gravidez. Esta é a razão para diversas esportistas apresentarem amenorreia, a parada total da menstruação em idade fértil durante ciclos consecutivos, principalmente entre maratonistas.

Estima-se a prevalência de amenorreia em 50% das corredoras competitivas e em 25% das atletas amadoras. O problema pode ser estimulado, ainda, por dietas radicais: as atletas exageram no corte nutricional para perda de peso, mas se esquecem de que os hormônios sexuais têm como matéria-prima o próprio colesterol do organismo.

“Uma mulher com baixo percentual de gordura e muita massa magra pode ter dificuldade na gênese desses esteroides (estrógeno e progesterona)“, alerta Alexandre Hohl, presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem). O resultado? Bagunça no ciclo menstrual, além de chances para um diagnóstico de osteopenia. A doença, caracterizada pela diminuição da densidade mineral dos ossos (precursora da osteoporose), surge uma vez que o estrógeno, que protege o cálcio e ajuda na renovação dessas estruturas, pode estar com sua reserva em baixa. A cilada maior é o risco de fratura por estresse, já que a saúde da corredora está fragilizada.

 

Fontes: Alexandre Hohl, presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Neurologia Experimental e Clínica da Universidade Federal de Santa Catarina (Nupnec-UFSC); Jomar Souza, ortopedista, traumatologista e especialista em medicina do exercício e do esporte e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) e Sergio dos Passos Ramos, especialista em ginecologia e obstetrícia pela Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp).